quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


O sono é fuga, exílio delicioso

- Espécie de balanço veneziano

Todo coberto de um etéreo pano

Feito de brisas, leve e vaporoso...

A alma liberta do casulo humano

Vence abismos no espaço misterioso,

Cavalga o próprio sol, corcel fogoso,

Colhe estrelas no fundo do oceano.

Fração de morte, fim sem sepultura,

- Interlúdio de mágica ventura -

Em que o homem se eleva e, sem que o note,

Rompe as cadeias deste cativeiro,

Como um pajem armado cavaleiro

Ou Sancho promovido a D. Quixote...

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Minha alma é velha estrada esburacada

Cheia de sulcos longos e profundos,

- Caminho que conduz a ignotos mundos

Perdidos na distância ilimitada -

Alma deserta e só... Silêncio e nada...

Nem o tropel dos sonhos vagabundos

Que em tempos idos, prósperos, fecundos,

Galopavam garbosos nessa estrada...

Há uma vegetação que sempre nasce

Sobre os caminhos velhos, esquecidos,

Para cobrir-lhes a hedionda face.

Mas, é triste que uma alma assim se exponha,

De escombros nus, patentes e despidos,

Na exaltação, inglória da vergonha.

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Quando a carta palpita entre os seus dedos,

No esfuzilar do lance decisivo,

Dá-lhe a impressão de um ser humano e vivo,

A revelar seus íntimos segredos...

Homem-menino, em meio de brinquedos,

É um ser ingênuo, simples, afetivo,

Que, de repente, ríspido, impulsivo,

Penetra infernos, rompe abismos tredos...

Vermelho e negro: fogo, incêndio e morte...

Que símbolos estranhos os da sorte!

- Losangos, corações e negras cruzes...

No jogo há mágicas de ilusionistas,

Milagres de faquires e alquimistas

Que fundem trevas e fabricam luzes.

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Feio, hediondo - Quasimodo ou Vulcano -

Corpo mal feito, exóticas feições,

Ei-lo a integrar o aglomerado humano,

Embora incluído entre as aberrações...

Passa a vida a enganar-se e, nesse engano,

Tem delírios de estranhas proporções:

Julga-se um mago, um semi-deus indiano

E se desdobra em transfigurações...

Vive excitado em meio à humanidade -

Constrangido em complexos de humildade,

Vai bebendo a amargura em alta dose.

Inveja a larva que há de ser falena:

- Bem mais feliz é aquela irmã pequena

Que espera a glória da metamorfose...

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Sou pobre, roto, esquálido mendigo,

Sozinho, incompreendido, escorraçado...

Corpo sem teto e alma sem abrigo

- Raro exemplar de um clã desbaratado.

Venho talvez de um tempo muito antigo,

De uma era longínqua do passado.

Sinto que o mundo nada quer comigo

É a minha vida é a de um desajustado.

Mas, em noites de insônia e de tormento,

Às vezes ponho o olhar no firmamento

À procura de luz e de esperança.

E sonho: - O céu é o teto iluminado

Do meu palácio esplêndido, encantado,

Onde posso brincar como criança...

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