Valor Econômico
No último dia dez de novembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que amplia em 50% os limites de enquadramento do Simples Nacional, popularmente conhecido como Supersimples. Com a medida, o limite da receita bruta anual máxima para as microempresas ingressarem neste sistema tributário sobe de R$ 240 mil para R$ 360 mil, e o da pequena empresa passa de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões. Em vigor desde julho de 2009, o teto do Empreendedor Individual (EI) passa de R$ 36 mil para R$ 60 mil. Outra alteração trazida pela nova lei é o parcelamento, em até 60 meses, dos débitos tributários. Cerca de 500 mil empresas que optaram pelo regime do Simples Nacional devem para o governo, segundo dados do Sebrae. Sem o parcelamento elas seriam retiradas do sistema em janeiro de 2012.Dentre as mudanças, o Portal do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.gov.br) apresentará novas funcionalidades, como alteração e baixa da empresa, entregas de guias de recolhimento do FGTS, INSS e demais obrigações fiscais. Os empreendedores poderão, de maneira simplificada, solicitar restituições à Receita Federal, caso haja erro ou pagamento indevido.
A partir das alterações, estima-se que 30 mil negócios poderão ser incluídos no programa do Supersimples
A alteração na lei vai beneficiar também quem exporta. Com a nova regra, exportadores quem fazem parte do programa poderão atingir o mesmo valor do faturamento bruto anual no mercado interno. Até então, pequenas e médias empresas que vendiam fora do país não sabiam se valia a pena continuar a investir lá fora, sob pena de perder os benefícios.
De acordo com o Sebrae, o Brasil tem hoje 5,5 milhões de micro e pequenas empresas. Cerca de 3,9 milhões estão cadastradas no Simples Nacional, incluindo 1,6 milhão de empreendedores individuais que exercem atividades como eletricistas, cabeleireiras, costureiras e encanadores.
A partir das mudanças, estima-se que 30 mil negócios poderão ser incluídos no programa, que tem como principal objetivo unificar o pagamento de seis impostos federais - IRPJ, IPI, PIS/PASEP, Cofins, CSLL e INSS patronal - mais o ISS recolhido pelos municípios e o ICMS cobrado pelos estados. As alterações começam a valer em janeiro do próximo ano. A atualização da tabela reduz em 47% os impostos federais pagos por aqueles que optaram pelo Simples.
Bruno Caetano, superintendente do Sebrae-SP, afirma que as modificações são uma conquista. "O Supersimples foi instituído em 2007 e desde então continuava com as mesmas regras. Era preciso atualizá-lo. Muitos empreendedores, com medo de ultrapassar o limite da receita bruta anual e perder benefícios, estavam pisando no freio, o que é contraditório porque o principal objetivo de quem tem um pequeno negócio é expandir. As mudanças vão permitir que as micro e pequenas empresas possam crescer, produzir mais e aumentar a competitividade."
Apesar de reconhecer a importância das modificações, o superintendente afirma que o governo federal precisa investir em outras melhorias. "É importante criar mecanismos de ajuste anual, baseados no PIB. Se o país cresce deve haver repasse a quem contribui. É fundamental eliminar restrições por atividade e ter como único critério de enquadramento o limite de faturamento. O governo poderia, entre outras melhorias, estabelecer o faturamento como base de cálculo do Simples e não o acumulado do ano. Assim, respeitaria a sazonalidade de diversas atividades econômicas. Além disso, seria interessante criar uma faixa de transição de até 10% do teto, mantendo as vantagens do Simples no ano seguinte para quem ultrapassasse o limite".
Microempresário teria que deixar regime
Marcelo Dória, 31 anos, recebeu com alívio a ampliação do teto do Supersimples. Dono do Depósito da Lingerie, loja localizada em São Paulo e criada em 1998, ele teria que desacelerar o crescimento do negócio para não perder as vantagens do regime tributário. "Se a lei não fosse sancionada, eu teria duas alternativas, mas nenhuma delas era muito animadora. Ou continuaria expandindo e ficaria fora do sistema, já que a receita bruta anual da empresa neste ano ultrapassaria o limite de R$ 240 mil, ou deixava de crescer para continuar enquadrado", diz ele. "Agora posso pensar em contratar novos funcionários e investir no mix de produtos. Estou até querendo aumentar a loja com o intuito de atender melhor a clientela."
Marcelo entrou no Simples desde o princípio da lei, em 2007. Além de reduzir a burocracia e facilitar a vida, ele diz que diminuiu despesas com impostos. "Quando o governo cria esse tipo de medida, está contribuindo para a formalização e diminuição da mortalidade das empresas, geração de empregos e desenvolvimento do país", afirma.
Paulo Feldmann, presidente do Conselho da Pequena Empresa da Fecomercio-SP, defende que é necessário incentivar mais o empreendedorismo no país através de políticas públicas. "O Supersimples é um avanço, mas infelizmente não é o bastante para promover o fortalecimento das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) do país. Na Itália, por exemplo, as MPEs são responsáveis por 58% do PIB, segundo dados oficiais. Aqui, elas respondem apenas por 20% do PIB. De cada 100 empresas brasileiras, 99 são micro ou pequenas. Elas são as maiores geradoras de emprego no Brasil", afirma o presidente.
De acordo com dados divulgados pelo Sebrae, baseado no Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), em setembro as micro e pequenas empresas geraram 130 mil oportunidades de trabalho. O número corresponde a 62% do total.
Feldmann diz que a escassez de crédito é um grande impasse para o desenvolvimento das MPEs. "Faltam programas de microcrédito e financiamentos de longo prazo a taxas atraentes. Com isso, o empreendedor poderia investir em novas máquinas, em tecnologia e expansão", observa. Segundo Feldmann, o sistema bancário do Brasil é avançado e lucrativo, mas o custo dos empréstimos é muito elevado. "Outra medida interessante seria o governo fechar mais negócios com essas empresas. A Inglaterra deu prioridade às pequenas e médias nas compras referentes aos jogos olímpicos de 2012 porque sabe da importância do segmento para impulsionar a economia."
Embora longe do ideal, a participação das MPEs nas compras do governo tem subido nos últimos anos. Levantamento feito pelo Ministério do Planejamento aponta que, entre janeiro e setembro deste ano, as vendas feitas pelas MPEs ao governo federal subiram 16% em comparação ao volume negociado em 2010. Ao todo foram comercializados R$ 8 bilhões. O número representa 25% do total das compras do governo no ano. Em relação a 2002, quando as micro e pequenas venderam R$ 1,8 bilhão para a esfera federal, o volume alcançado em 2011 é cerca de 300% superior. (A.C.D.)
Fonte: Fenacon
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