quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


Em tudo há vibração de vida e de trabalho:
Quer no choque brutal da bigorna e do malho,
No estrídulo ranger das limas e das serras,
No contínuo rodar do arado sobre as terras,
Quer na mão que semeia ou na que colhe os frutos,
Nos pés que galgam sós os alcantis abrutos,
Nos que pisam de leve as lajes dos mosteiros,
Nos que caminham nus por entre os espinheiros,
Nos braços que erguem paz e movem as charruas,
Nos que, pelo dever, vibram espadas nuas.
Em toda parte há força, há vibração, há vida,
Músculos em ação, energia perdida,
Seiva que se consome e sempre se renova,
Nessa existência velha e eternamente nova.
Vidas em transição, em curso, em movimento...
Tomba da haste uma flor, nasce um novo rebento.
E o fruto que apodrece inútil sobre a terra
É semente que brota e que outra vida encerra.
Nesse eterno vai-vem, nessas alternativas,
Baloiçam gerações - humanas forças vivas -
Que se gastam na mó ciclópica da luta.
Pobres entes em choque, em trágica disputa
Pela conservação egoística do ser:
Homens que são mortais mas que hão de reviver
Na prole que prolonga e leva ao infinito
Sua eterna aflição, seu destino maldito.

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Parece que foi ontem e, no entanto,
Já vinte e cinco anos se passaram
Desde que as nossas vidas se enlaçaram
Num só destino afortunado e santo.
Num revezar de risos e de pranto,
Tristezas e alegrias se alternaram.
E nossos filhos, um a um, chegaram,
Enchendo a casa de celeste encanto...
De nossas lutas as vitórias todas
Se resumem apenas nestas bodas,
Na expressão emotiva desta data.
Mas, minha amiga, em nossa fronte agora
Fulgem clarões de gloriosa aurora
No esplendor dos cabelos cor de prata.

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Neste livro de versos escolhidos
Pelo gosto sutil de uma rainha
Talvez pareça grande audácia minha
Lançar meus versos tão descoloridos
mas as entradas dos jardins floridos
Nem sempre tem o encanto que convinha...
Ao contemplá-las nunca se adivinha
O esplendor dos tesouros escondidos...
E embora aqui devesse estar um poema
- Arco de luz numa fachada nobre -
De fronte real esplêndido diadema -
Só pus estas, estas estrofes. Mas, sou franco,
E penso que esta página tão pobre
Melhor seria se estivesse em branco...

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Um livro em branco é um coração de criança
Sem imagens, sem cor e sem tormentos.
- Terra virgem à espera de rebentos -
- Mundo povoado apenas de esperança -
Álbum... Solo feraz onde se lança
A sementeira dos encantamentos
Que desabrocham ao sabor dos ventos
Que corolas doiradas da lembrança...
E cada folha branca em que se escreve
Perde a alvura puríssima da neve
E toma a cor de cada inspiração...
Ó tu, que vais abrir este livrinho,
Abre-o, mas com cuidado e com carinho:
Olha que estás abrindo um coração!

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