domingo, 12 de dezembro de 2010

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


Numa noite de festas e esplendores,

Em turbilhões de luzes e de cores,

Uma jovem de exótica beleza

Viu surgir de uma alfombra a Natureza,

Vestida de estrelas e de rosas,

Que, vindo de regiões misteriosas,

Como uma nova e esplêndida Belkis,

Por um capricho, aquela noite, quis

Mostrar ao mundo a sua majestade

E encher de inveja a humana mocidade,

Que se dizia irmã da primavera,

Eternizando uma infantil quimera.

E a deusa augusta, soberana e altiva,

Diante da moça palpitante e viva,

Assumindo uma olímpica atitude,

Falou: -Mulher, a tua juventude

É claridade efêmera e fugaz.

É um castelo de cartas; se desfaz,

Transformando-se em tristes desenganos

Ao sopro vil dos dias e dos anos.

A Primavera volta, e as flores são

Milagre eterno de renovação.

A tua mocidade vai-se embora

E dura só o espaço de uma hora.

Estremeceram frondes nas aléias.

Ouviram-se zumbidos nas colméias.

Encheram-se os espaços de chilreios

Da natureza aos trêmulos anseios.

Diante da deusa a jovem se levanta,

Dando a palavra ao coração que canta.

Despindo a timidez, fala à Rainha:

- Sou moça e bela e a Natureza é minha.

Tenho ilusões que são o meu tesouro.

Tenho sonhos que valem todo o ouro,

Toda a riqueza imensa do Universo.

Tenho a poesia na alma e, em cada verso,

Palpitam mundos, resplandecem astros.

Piso de leve a terra e nos meus rastros

Brotam flores, cintilam colibris...

Eu não invejo, ó deusa, eu sou feliz!

Se a vida não é mais que a Primavera.

Diluíram-se no espaço acordes de harpas.

Vibraram harmonias nas escarpas.

E o som e a luz, tremendo de emoção,

Mandaram que as estrelas, na amplidão,

Cantassem, em soberba majestade,

Hinos de glória à Vida e à Mocidade.

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Dentro da noite cheia de pavores,

Perpassam arrepios e lamentos:

É a serenata trágica dos ventos

Na bárbara expressão das grandes dores...

Nos recônditos mundos interiores,

Onde negrejam sombras e tormentos,

Há fanfarras de estranhos instrumentos,

Gemendo e uivando em tétricos clangores...

Trevas por toda parte, dentro e fora

Da alma noturna do infeliz que chora

- Trevas sinistras, gêmeas, paralelas -

Mas, no negrume dessa imensidade,

Há sempre uma ilusão de claridade

- Resto de luz das últimas estrelas -

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Pobre árvore sem flores e sem frutos

- Mero ornamento estético das ruas -

Que a bem da forma sangra em dores cruas

Da tesoura do artista aos golpes brutos.

Nos meses de verão quentes, enxutos,

Quando outras plantas estão quase nuas,

Faz gosto ver as ramarias suas,

Formando verdes, sólidos redutos...

Há pessoas assim como essa planta:

Não dão fruto nem flor até a morte,

Mas têm certo poder que nos encanta:

Sofrem mutilações de toda sorte,

Mas, numa resistência quase santa,

Reverdecem de novo a cada corte.

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Planta selvagem, rústica, esquisita,

Vivendo à custa de árvores adultas,

Com raízes aéreas, insepultas,

No dorso do galho que se agita...

- Longe do mundo, alheia às turbamultas,

Prefere a condição de parasita

Na solidão olímpica, infinita,

Das florestas inóspitas, incultas...

No reino virgem da floresta rude

Abre-se a flor da orquídea rara e bela,

Magnífica na forma e na atitude.

E do mar verde esplêndida sereia

- Um pouco de mulher, algo de estrela -

Deslumbra os olhos do Homem, que ela odeia.

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