Juros altos, pesada carga tributária e salários baixos elevam o custo de produzir e consumir no País
Curitiba - Temos uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo, pagamos juros extremamente altos e ganhamos salários baixos que limitam o poder de compra Essa combinação explosiva faz do Brasil um país caro para viver Mesmo os trabalhadores que conseguem aumento real nas negociações salariais não têm poder aquisitivo suficiente
Hoje, a carga tributária brasileira atinge 37% do Produto Interno Bruto (PIB) e é uma das mais elevadas do mundo Os juros são os ''maiores do planeta'' e a Selic (taxa básica de juros da economia) em 10,75% ao ano é cerca de cinco vezes maior que a média dos juros internacionais De acordo com o coordenador do curso de Economia da FAE, Gilmar Mendes Lourenço, tudo isso torna o custo de produzir e consumir no Brasil muito elevado ''Os custos tributário e financeiro tornam a vida mais cara que em outros países'', diz E os salários baixos limitam o poder de compra
O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva, concorda que a renda no Brasil é baixa Outro grande entrave é o sistema tributário regressivo que impacta no consumo e afeta mais quem tem renda menor ''Quem ganha menos paga mais tributos porque estão embutidos nos preços dos produtos''
Ele destaca que o Imposto de Renda também impacta mais na classe média que tem o tributo descontado na fonte, diferente da classe alta que não tem este desconto em folha porque grande parte é empregador e não empregado Além disso, essa camada da população com renda maior tem maneiras de reduzir o que vai pagar de imposto
Silva afirma que teria que ser tributada a renda, mas minimizados os impostos sobre o consumo e os investimentos Segundo ele, hoje há uma alta sonegação e, os contribuintes que pagam são muito tributados
Para ele, não adianta diminuir a carga tributária se o sistema continuar no modelo regressivo Silva defende que haja uma redução dos gastos do governo com pagamento de juros da dívida interna para poder investir em infraestrutura e serviços essenciais como saúde e educação
O economista defende que o sistema tributário fosse progressivo com uma política para reduzir os juros da dívida Segundo ele, há uma defasagem das tabelas do imposto de renda de 54,86% desde 1996 até dezembro de 2009 Neste período, a inflação aumentou 146,69% e a tabela do IR foi corrigida em 59,79% Com isso, muitos contribuintes que não pagavam imposto começaram a ter essa obrigação
Na década de 80 o número de faixas do IR era maior No governo Fernando Henrique Cardoso foram reduzidas para três Em 1995, eram quatro faixas e, a maior delas, tributava em 35% quem ganhava acima de R$ 10 mil por mês Um ano depois, passaram a ser três faixas e a maior delas era com imposto de 25% para quem ganhava acima de R$ 1 800 A partir disso, quem ganhava mais e era tributado em 35% passou a pagar 25% de imposto
No final do governo FHC, as três faixas do IR eram: isentos, 15% e 27,5% Atualmente, são cinco faixas: isento, 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5% ''Com o achatamento da tabela, muitas pessoas começaram a pagar IR'', disse Caso a tabela tivesse sido corrigida pela inflação, o teto atual que é de R$ 1 499,15 deveria ser de R$ 2 321,69
Compras em outros países estão em alta
Com o alto custo dos produtos no País, cada vez mais os brasileiros têm programado viagens de compras aos Estados Unidos Os principais itens que fazem parte da lista são roupas, relógios, óculos, perfumes e cosméticos Na agência GR Turismo, só na semana passada, 14 pessoas fecharam pacotes de viagem para Nova York e Miami
Segundo o proprietário da agência, Geraldo Rocha, que é diretor de relações com o mercado da Associação Brasileira de Agências de Viagens, regional Paraná, um pacote para Miami de sete noites com a parte aérea e hospedagem sai por US$ 1 300 E acaba sendo mais barato viajar na baixa temporada que vai de março a junho e de agosto até o começo de dezembro
Como os produtos são bem mais baratos em relação ao Brasil, muitas vezes as pessoas pagam a viagem com esta economia, afirma Rocha Essa diferença de preços está tornando comum as viagens de pessoas que vão aos EUA para montar enxovais de noiva e de bebê Só na GR, houve um aumento de 25% na demanda pelos pacotes de compras para os EUA neste ano
Muitos turistas também têm preferido as viagens internacionais do que os roteiros no Brasil Para passar o réveillon em um resort no Nordeste brasileiro, o gasto é de R$ 4 mil enquanto em Nova York custa pouco mais de R$ 3,6 mil Segundo Rocha, as viagens mais procuradas são para os EUA seguido de Buenos Aires e de algumas capitais europeias No Brasil, os roteiros mais requisitados são Fortaleza, Salvador, Natal e Recife
O limite de compras é US$ 500 para eletroeletrônicos Já roupas, maquiagem, perfume e bolsas entram na lista de itens de uso pessoal e não fazem parte da conta de restrições da Receita Federal Segundo Íria Rocha, que também é proprietária da GR, Orlando e Miami têm imposto sobre os produtos de 6,5% enquanto em Nova York a taxa é de 9,5%
A médica Daniela Badziak voltou há poucos dias de Miami onde foi fazer o enxoval do bebê ''Vale a pena financeiramente Comprei roupas de marcas famosas e com preço acessível'', contou ela que está grávida de cinco meses Segundo ela, os preços são quatro a cinco vezes mais baratos que no Brasil Com a economia das compras é possível pagar a viagem
Ela comprou roupas, carrinho, bebê conforto, berço desmontável, brinquedos e moisés eletrônico e gastou cerca de US$ 3 mil Ela está grávida do primeiro filho e conta que também aproveitou a viagem para passear (A B )
Andréa Bertoldi
Equipe da Folha
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