Homem! Vaidoso que és, simples metazoário
Dotado de razão. Teu antropocentrismo
Vive dentro de ti, como um microorganismo
Cantando o teu poder imenso, extraordinário.
Microscópico deus, pigmeu no grande abismo
- Filho da poeira astral ou de um cosmozoário -
Descendente talvez de humílimo espongiário
Ou flor da terra-mãe em santo paroxismo.
És grande, és forte, és sábio, és quase onipotente,
És uma multidão de vidas celulares
Em perfeito equilíbrio e em função permanente.
És uma força em marcha, um poder intranqüilo
A querer desvendar os mundos estelares
Em busca de outro irmão, na ânsia de destruí-lo.
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Há numa simples pétala de rosa
Infinitos de luz e de harmonia,
Soluços de astros, sóis em plena orgia,
Íris florais em festa misteriosa...
Treme-lhe a carne, a derme voluptuosa.
Vibram nervos à flor da tez macia.
E uma alma de mulher se denuncia
No enrubescer da pétala medrosa...
E como a virgem no esplendor de um beijo,
No alvorecer do amor e do desejo,
Entre clarões de acesos rosicleres,
Trêmula e viva a pétala palpita.
O seu perfume é a ânsia que se agita
Na alma da flor, na boca das mulheres.
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Vergado ao peso enorme do volume
E ruminando o fel da vida amarga,
Eis o homem cuja vida se resume
Em ser paciente azêmola de carga.
Doem-lhe os rins e sente em cada ilharga
A pressão de um punhal de afiado gume
- Atlas de torso nu e espádua larga
Que canta por disfarce ou por costume -
Ó meu irmão de músculos retesos,
De olhos em brasa eternamente acesos
E compleição de lutador romano,
Eu não invejo o teu vigor de atleta,
Porque na alma raquítica de poeta
Carrego o peso do tormento humano.
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