segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Poema de Carlos Robert Keis - "Ô Chefe 45"



Curvas longínquas... mentes al'aneiros

- Rodovias do Sonho e da Ilusão -

Abismos negros... baratos traiçoeiros

Em que se engolfa incauto o coração.

Soberbos alcantis... despenhadeiros

Fortes, cheios de ameaça e de atração.

Espaço imenso... trilhos condoreiros

- Caminho aéreo da imaginação -

Ninhos de águia na excelsa majestade

Dos mais augustos solos da realeza

- Vizinhos naturais da tempestade

- Altos arranha-céus da Natureza.

Vozes de aves, que em doce alacridade

Gorjeiam carmes lindos na devesa...

Pios tristonhos... nênias de saudade

Na música dolente da tristeza...

Serpentes líquidas, reptis coleantes

- Artérias d'água abertas sobre a terra -

Mares e oceanos, quérulos gigantes,

Plangendo a mágoa que seu bojo encerra.

Pepitas de ouro... minas de diamantes

- Astros que a picareta desenterra -

Rubis sanguíneos... gotas borbulhantes

Das veias inorgânicas da terra.

Edênicas miragens polícromas

Formam quadros de efeitos deslumbrantes,

Miscelânea de cores e de aromas

Num cenário de múltiplos cambiantes.

Troncos enormes, majestosas comas,

Ao sabor de galernos sussurrantes...

Feras ligeiras, sacudindo as pomas

Chamam os filhos prófugos, distantes.

Esplêndidas manhãs... Deslumbramentos

De cor na luz mirífica do dia...

Penumbras vesperais... recolhimentos...

Horas de amor e de melancolia.

Eu vejo tudo e sinto a imensidade

Desse Infinito que me envolve a Vida

- Teia de fios fortes da Verdade

Pelas mãos da quimera entretecida -

E sinto em mim indômita vontade

De subir, voar, levando de vencida

A força etérea, a lei da gravidade

E toda a ciência velha, encanecida.

Oh! Quem me dera erguer-me deste solo,

Desta galé fatal que me agrilhoa,

Subir no carro esplêndido de Apollo,

E pelo mundo jornadear à toa.

E tenho a sensação de que me evolo

numa quimera eternamente boa,

Alado, a transitar de pólo a pólo

Na delícia suprema de quem voa.

Fora do mundo real a que pertenço

Desagregado da matéria ingrata

Eu sinto o meu espírito suspenso,

Ruflando as azas rútilas de prata.

Ascendo às grimpas desse espaço imenso,

Onde minh'alma louca de arrebata

E abrange o mundo num olhar intenso

Nesse delírio de nefelibata.

Minh'alma, cumpre o teu destino:

Galga e supera os cumes de granito!

Singra o azul como um facho peregrino

- Asa de luz brilhando no Infinito -


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