Curvas longínquas... mentes al'aneiros
- Rodovias do Sonho e da Ilusão -
Abismos negros... baratos traiçoeiros
Em que se engolfa incauto o coração.
Soberbos alcantis... despenhadeiros
Fortes, cheios de ameaça e de atração.
Espaço imenso... trilhos condoreiros
- Caminho aéreo da imaginação -
Ninhos de águia na excelsa majestade
Dos mais augustos solos da realeza
- Vizinhos naturais da tempestade
- Altos arranha-céus da Natureza.
Vozes de aves, que em doce alacridade
Gorjeiam carmes lindos na devesa...
Pios tristonhos... nênias de saudade
Na música dolente da tristeza...
Serpentes líquidas, reptis coleantes
- Artérias d'água abertas sobre a terra -
Mares e oceanos, quérulos gigantes,
Plangendo a mágoa que seu bojo encerra.
Pepitas de ouro... minas de diamantes
- Astros que a picareta desenterra -
Rubis sanguíneos... gotas borbulhantes
Das veias inorgânicas da terra.
Edênicas miragens polícromas
Formam quadros de efeitos deslumbrantes,
Miscelânea de cores e de aromas
Num cenário de múltiplos cambiantes.
Troncos enormes, majestosas comas,
Ao sabor de galernos sussurrantes...
Feras ligeiras, sacudindo as pomas
Chamam os filhos prófugos, distantes.
Esplêndidas manhãs... Deslumbramentos
De cor na luz mirífica do dia...
Penumbras vesperais... recolhimentos...
Horas de amor e de melancolia.
Eu vejo tudo e sinto a imensidade
Desse Infinito que me envolve a Vida
- Teia de fios fortes da Verdade
Pelas mãos da quimera entretecida -
E sinto em mim indômita vontade
De subir, voar, levando de vencida
A força etérea, a lei da gravidade
E toda a ciência velha, encanecida.
Oh! Quem me dera erguer-me deste solo,
Desta galé fatal que me agrilhoa,
Subir no carro esplêndido de Apollo,
E pelo mundo jornadear à toa.
E tenho a sensação de que me evolo
numa quimera eternamente boa,
Alado, a transitar de pólo a pólo
Na delícia suprema de quem voa.
Fora do mundo real a que pertenço
Desagregado da matéria ingrata
Eu sinto o meu espírito suspenso,
Ruflando as azas rútilas de prata.
Ascendo às grimpas desse espaço imenso,
Onde minh'alma louca de arrebata
E abrange o mundo num olhar intenso
Nesse delírio de nefelibata.
Minh'alma, cumpre o teu destino:
Galga e supera os cumes de granito!
Singra o azul como um facho peregrino
- Asa de luz brilhando no Infinito -
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