quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"



Este sorriso alegre que me enflora,


Os lábios a contar que sou feliz


É como o riso falso de uma atriz,


Dissimulando o tédio que a devora.


E a frase que me ouvis


Deitar sorrindo pela boca a fora


É o fingimento de quem sofre, embora


Não revele no que o lábio diz.


E num contraste acerbo, enquanto o rosto


Tenta ocultar as sombras do desgosto,


Este destrói-lhe a primitiva cor...


Este sorriso alegre que aparento


É a ironia falaz do sofrimento,


É contratura histérica da Dor.

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Sinto da hostilidade à fera sanha


Tolher-me o passo em meio do caminho.


Em vão o róseo ideal que me acompanha


Tenta da estrada desfazer o espinho.


Da humanidade irônica, tamanha,


Um riso mau, sarcástico, mesquinho:


Eis o meu companheiro na campanha


Rude da vida que travei sozinho.


Mas seguirei impávido, solene,


Calcando a inveja cancerosa, infrene,


Que em baixo de meus pés formou seu leito.


E deste mundo o estúpido barulho


Jamais há de abater o meu orgulho


- Única flama que me escalda o peito -

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Lágrimas? Verto-as... verto-as e, no entanto,


Sou homem - pobre filho da desgraça -


E quem no mundo existirá que passa


Sem ver correr a linfa do seu pranto?


Ninguém. Por isso eu choro. A negra massa


Que forma a nuvem não extingue enquanto


Não descarrega do enfunado manto


A água que cai em flocos de fumaça.


Choro e sou homem. Quem dirá que um homem,


Sejam quaisquer as mágoas que o consomem,


Volte aos papéis ingênuos de criança!


Mas, a lágrima às vezes me consola.


E em cada gota que na face rola


Vejo outra vez brilhar uma esperança.

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Creio no Bem e creio na Virtude.


Creio que existe um Deus, um Soberano,


Que empresta sempre um sonho à juventude


E uma esperança em flor ao desengano.


Creio que o Bem existe e, embora estude


Do Mal, da Hipocrisia o eterno arcano,


Jamais descrente conservar-me pude


Ante a grandeza de um afeto humano.


Creio no Amor... no amor das almas puras,


No grande amor que empolga as criaturas


E torna o mundo sempre mais risonho.


Creio que o mundo é bom e, na verdade,


Quem faz o Bem acreditar não há de


Que o Bem na terra seja sempre um sonho!

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