sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


 Eu vejo sempre o céu fitando a Terra,

Vejo a Terra também fitando o céu,

Mas não desvendo o misterioso véu

Que esse amor infeliz, há tanto, encerra.

Tenho mesmo a ilusão de que esse incréu

Disputa a amada à sorte em plena guerra

E vejo por detrás daquela serra

O beijo que eles dão como um troféu.

E vendo no horizonte aquele beijo

De corpos tão distantes também vejo,

No horizonte visual das ilusões,

Lábios humanos sempre se encontrando

Em beijos longos muitas vezes quando

Bem longe um do outro estão os corações.


 
No nobre e velho parque abandonado,

Entre ruínas de heráldico passado

Uma rosa vermelha,

Fúlgida, se assemelha

À rainha orgulhosa,

Esplêndida, formosa,

A dominar à força de beleza

A estesia imortal da Natureza

Em meio de raquíticos vassalos,

Magnífica e sublime a domina-los,

Primeira entre os primeiros

Tesouros dos canteiros,

Soberana se ostenta

E às vezes aparenta

Lábios sanguíneos que o desdém descerra

Ante a inveja floral de toda a Terra.

No vasto firmamento alto e profundo

- Clâmide azul aberta sobre o mundo -

Uma estrela fulgura

- Claro riso da altura,

Álacre e cristalino -

Como um farol divino

Ou um cálice de bênçãos luminosas

A gotejar no cálice das rosas.

Ela empana o fulgor das companheiras,

Pois é também primeira entre as primeiras

No lúcido cenário.

Seu brilho extraordinário

Que trêmulo palpita

É uma aza que se agita

Pulverizando pelo espaço em fora

Claridades balsâmicas de aurora.

Chegando a estrela a rosa se entristece

E diz-lhe baixo como numa prece:

- Formosa estrela, o teu fulgor radiante

Põe ancenúbios de oiro e de diamante

Na minha tez de seda e de veludo.

Mas, sinto, que me invade um tédio mudo,

Um desejo esquisito de brilhar,

De ter cintilações, de fulgurar

E de resplandecer como uma gema,

Ser dos jardins um lúcido diadema,

Ó - falena de luz - desce no espaço,

Vem pousar no meu cálido regaço!

Serás o espírito - a alma de uma flor.

Serei a carne - o corpo de um fulgor.

Por muito tempo a estrela estremeceu

E, por fim, tristemente, respondeu:

- Ó flor, eu vi num rápido momento

Como é universal o sofrimento.

Quantas vezes eu quis descer à terra,

Pesquisar o misterioso que se encerra

Na corola das flores olorosas,

Ter vida e ter perfume como as rosas,

Ter os beijos do sol, quente e fecundo,

E andar de colo em colo pelo mundo.

Mas, ai, querida irmã, como é infinita

A Dor universal. Em mim palpita

uma ânsia igual a que te faz sofrer.

Sou alma e nunca poderei descer -

És corpo e nunca poderás subir.

O astro parou instantes a luzir.

Depois voltou pálido, apagado,

Com um rosto depois de ter chorado,

Olhou e viu em pétalas no chão

Desfeita a linda flor. A estrela então

Sentindo ainda maior a sua dor,

Exclama, em voz tremente, para a flor:

- Bem mais feliz tu foste, ó rosa amiga,

O meu destino exige que eu prossiga

Na rota do infinito. O corpo morre...

E tu morreste. O espírito percorre

Todas as direções da Eternidade.

Só me resta de ti grande saudade,

Pobre amiga gentil. Eu fico ainda.

A minha sorte é triste e eterna, infinda:

Serei por sempre lúcida, imortal,

Como o fantasma da Ânsia Universal.

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