O presenteísmo, distúrbio de comportamento que faz com que os profissionais continuem indo ao trabalho mesmo com problemas físicos e emocionais, gera o equivalente a R$ 73,8 bilhões em prejuízos para empresas brasileiras anualmente.
Segundo estimativas da International Stress Management Association (Isma-BR), o problema afeta 18% dos executivos de média gerência. Esse foi o tema de uma pesquisa inédita no Brasil realizada pela instituição com mil gerentes de 25 a 60 anos nos setores de educação, finanças, indústria, saúde e serviços, em Porto Alegre e em São Paulo.
A presidente da Isma-BR, Ana Maria Rossi, destaca que o estudo identificou sintomas do presenteísmo na grande maioria dos executivos pesquisados. Segundo ela, os sinais físicos e os emocionais aparecem primeiro. "Para tentar lidar com a situação, o profissional acaba desenvolvendo também os distúrbios comportamentais. Surgem, então, os conflitos no trabalho e o medo de ser demitido", diz.
A maior queixa dos executivos é o desequilíbrio entre o esforço realizado e a recompensa recebida, mencionado por 78% dos profissionais. Em segundo lugar, com 73%, está a sobrecarga de trabalho. Os motivos variam segundo a área de atuação dos entrevistados. No segmento de educação, os problemas são limitações de verba e falta de reconhecimento. Na indústria, existe a preocupação com o enxugamento dos quadros. No mercado financeiro, os profissionais temem as mudanças rápidas e contínuas do mercado. As queixas dos executivos da saúde são a grande demanda de trabalho e a falta de infraestrutura. Já a competitividade entre as empresas afeta os profissionais de serviços.
Dentre os sintomas mais comuns apresentados pelos entrevistados estão as dores musculares e de cabeça (89%), a ansiedade (86%) e a desmotivação (91%). Menos comuns, mas também presentes, estão o consumo de álcool e drogas (59%) e os distúrbios de apetite (35%). Segundo Ana Maria Rossi, os sinais de que o problema existe na empresa são sutis, mas podem ser identificados pelos gestores. "O presenteísmo é mais difícil de se perceber porque o profissional está fisicamente na empresa, mas emocionalmente e mentalmente deixa a desejar", explica.
Profissionais que sempre apresentam motivos para se atrasar ou sair mais cedo, que não participam das atividades em grupo e que se mantêm indiferentes em reuniões podem estar sofrendo de presenteísmo. Porém, mesmo insatisfeitos e desmotivados, eles continuam a ir ao trabalho por medo da demissão ou de gerar conflitos. Ainda assim, 94% dos profissionais que sofrem com o problema não se sentem capazes de trabalhar.
O comportamento pode ser um alerta às empresas. Quando o profissional chega a esse ponto, muitas vezes a relação com o gestor já está desgastada. A solução pode estar em programas de aconselhamento, orientação e até mesmo na formação de uma equipe que ajude o executivo a administrar o volume de trabalho. "Profissionais com muita responsabilidade e pouca autonomia têm 67% a mais de chances de adoecer", explica Ana Maria.
Vivian Soares
Fopnte: Valor Econômico
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