segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Manter o emprego é a melhor forma de começar um negócio

De vez em quando, pessoas com espírito empreendedor me perguntam se deveriam desistir de seus empregos para começar o próprio negócio, ou buscar esse sonho em meio período, mantendo o emprego atual. Normalmente sugiro a segunda estratégia, porque ela funcionou para mim. Durante seis anos, após terminar a universidade, trabalhei para outras pessoas. Enquanto isso, fazia bicos à noite, nos fins de semana e nas férias em meus próprios projetos como pubs e companhias de softwares. Não tirei muitas férias quando estava na casa dos 20 anos. Eu estava ocupado demais administrando várias empreitadas paralelas.


O ponto de virada aconteceu quando um memorando circulou na Kleinwort Benson, onde eu trabalhava, observando que os funcionários não tinham permissão para ocupar cargos de diretoria ou ter participações em companhias externas. Soube ali que havia chegado a hora de tomar a iniciativa e abraçar o autoemprego em período integral, de modo que pedi demissão no mês seguinte e me tornei independente.


Minha sensação de liberdade era palpável, mas eu não me arrependi dos anos que passei fazendo malabarismo entre o emprego e meus empreendimentos. Foi tudo parte de meu aprendizado.


As vantagens de se ter um emprego ao mesmo tempo em que faz planos para se tornar seu próprio chefe são evidentes. Você aprende às custas de alguém; você recebe uma renda para pagar suas despesas enquanto seu negócio se desenvolve; e você protege suas apostas caso suas atividades freelance não deem certo.


As desvantagens também são claras: se você é pego por seu chefe usando de maneira inadequada os recursos da empresa em que trabalha, ou se distrair com seus interesses, afetando seu trabalho, haverá problemas. Uma empresa administrada em seu tempo livre nunca receberá a atenção e devoção necessárias para ser realmente bem sucedida. Se você for ambicioso, a opção de meio período deve ser apenas temporária. Você deve ter uma meta para "pular do barco": o ponto em que você desiste do emprego e mergulha no sonho.


A revolução online tornou o emprego duplo mais fácil do que nunca. Aparentemente, 2,5 milhões de empresas britânicas têm suas sedes nas casas dos donos - muitas delas são ocupações de horas vagas. Enquanto não houver conflitos com seu emprego principal, não há porque esse acerto não ser bem-sucedido.


Um empreendimento de meio período como esse terá que ser seu hobby e suas férias, e você precisa se preparar para semanas de trabalho de 70 ou mesmo 100 horas. Ele vai testar sua determinação: se você não tiver energia e comprometimento com tamanho esforço, não espere que a jornada será mais fácil se você assumir seu negócio em período integral.


Frenquentemente, aquele que ganha o maior salário permanece no emprego com os planos de saúde, aposentadoria e benefícios, enquanto seus parceiros (as) administram o negócio em casa.


Certos empreendimentos favorecem a atividade dupla: o comércio eletrônico, marketing direto, franquias, imóveis e coisas do tipo. A ascensão das empresas virtuais facilitou o segundo trabalho em meio período, graças à expansão da terceirização. É claro que nem todos aqueles que administram uma empresa ao mesmo tempo em que mantêm o emprego principal querem construir um império. Alguns gostam apenas de variar, gostam da liberdade e da renda extra.


O maior obstáculo individual para muitos empresários iniciantes é a renda baixa ou não existente nos primeiros anos. O sacrifício de um salário certo, pela incerteza que é ser dono do próprio nariz vale a pena para você? Sua família vai apoiá-lo, mesmo que emocionalmente, se não apoiar financeiramente? O que frequentemente mais mata empresas em estágios iniciais é o uso excessivo do dinheiro pessoal do dono, drenando a companhia de um capital de giro vital. A pessoa que trabalha em dois empregos pode evitar esses traumas, mas para se conseguir isso é preciso dedicação, algo como cursar uma escola noturna.


Como sempre, todas essas decisões representam sua filosofia pessoal. Conforme disse Goethe: "A maioria das pessoas trabalha a maior parte do tempo para simplesmente sobreviver". Você quer que essa frase de aplique a você, ou quer romper com isso e pelo menos tentar fazer a diferença? Se você tem dois empregos, os aspectos negativos são reduzidos. Para mim, esse é o compromisso consciente para muitos candidatos a empresários.


Luke Johnson


Luke Johnson é colunista do "Financial Times". Excepcionalmente hoje não publicamos a coluna de Lucy Kellaway.

 
Fonte: Valor Econômico

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