RIO — No dia a dia, colegas de trabalho criam laços de amizade e acabam conhecendo bem as qualidades e os defeitos uns dos outros. Muitas vezes, passam por situações semelhantes e até compartilham algumas frustrações — como falta de reconhecimento e salários abaixo do esperado. Mas, e quando um profissional é promovido e passa a liderar aqueles que antes eram seus pares? Para especialistas, para fazer essa relação dar certo, é preciso definir funções e, no ambiente de trabalho, impor limites e deixar as questões pessoais de lado.
Geralmente, ressalta a coach Dirlene Costa, da High Performance, quando um profissional é escolhido para liderar uma equipe da qual já faz parte é porque ele tem uma postura de liderança e, em algum momento, se destacou no time. E não é por isso que vai deixar de fazer parte do grupo:
— Ele pode e deve manter um bom vínculo com os colegas. Porém, a equipe precisa distinguir o colega do líder, e isso vai depender da postura que ele irá assumir. O novo chefe deverá ser claro desde o início, mostrando que a amizade continua, mas que terá que assumir seu papel, delegando tarefas e cobrando resultados quando necessário.
Sócio da MSA Recursos Humanos, Francisco Resendes destaca que a meritocracia, que está baseada na percepção dos superiores sobre o potencial e o histórico de resultados do profissional, fortalece o grupo.
— Se a decisão superior é percebida pela equipe como justa, a equipe se sente fortalecida, pois a possibilidade de crescimento em suas carreiras dentro da empresa tem um exemplo concreto.
Transparência na hora de comunicar a mudança
E como comunicar a mudança aos demais funcionários? O mais aconselhável é que o chefe que fez a seleção informe a todos e explique os motivos, sem desvalorizar os outros, aconselha Dirlene:
— A equipe não deve saber nos corredores, mas pela empresa e pelo próprio profissional promovido. Isso traz credibilidade e confiança diante da mudança. E o próximo passo é o novo chefe fazer uma reunião para comunicar, agradecer a oportunidade, ressaltar os pontos positivos da equipe e pedir a colaboração de todos, para que juntos alcancem os objetivos propostos.
Incentivar o engajamento dos colegas e manter um bom canal de comunicação é uma boa estratégia para iniciar esta nova fase, afirmam os especialistas. Conversar e saber ouvir são essenciais neste momento:
— As pessoas querem ser ouvidas e esperam conviver num ambiente que se sintam úteis. O primeiro passo para o sucesso está em abrir este canal — afirma o psicólogo e sócio-fundador da Top Quality, Carlos Eduardo Pereira.
Para o sócio da MSA Recursos Humanos, Francisco Resendes, a transparência dos critérios adotados caso a caso também fortalecem uma liderança:
— A postura ética e a justiça nas decisões cotidianas do novo chefe estará sendo observada. Ele deve conquistar a confiança dos colegas obtendo deles comprometimento e lealdade.
A coach Dirlene Costa ressalta que o fato de o novo líder ter feito parte da equipe que está assumindo tem uma vantagem: ele conhece um pouco de cada integrante. Sabe as dificuldades, angústias e demandas individuais e do grupo.
— Isso não quer dizer que ele poderá resolver tudo. Mas é um diferencial e, a partir daí, o líder pode trazer alternativas e soluções para montar um time de alta performance. Saber o que cada um faz melhor e potencializar este grupo — diz ela.
O ponto negativo, e talvez o mais complicado, segundo Dirlene, é ter na equipe um profissional que confunda os papéis, isto é, que queira ser tratado diferente porque é amigo do novo líder:
— Para driblar este tipo de situação, a clareza deve ser estabelecida desde o início. Por isso, quando um profissional é promovido a uma posição de liderança, o ideal é passar por um programa de desenvolvimento para líderes, que dará suporte para o novo desafio.
Já a coach executiva Eva Hirsch Pontes diz que, numa situação como esta, a maior dificuldade do chefe novato é delegar tarefas. Ela diz que, Enquanto o profissional tem um cargo técnico, ele precisa apenas cumprir prazos e desenvolver as habilidades necessárias para que a entrega do resultado seja satisfatória. Ao assumir um cargo de chefia, ele passa a liderar uma equipe e é necessário abrir mão de alguns detalhes e delegar tarefas para que os profissionais adequados se desenvolvam através delas.
— Saber delegar tarefas é uma das principais e mais difíceis competências de um bom gestor — afirma a coach, que baseia sua afirmação no desafio encontrado por aqueles que deixaram as áreas técnicas ou operacionais para assumir a liderança de equipes ou do próprio negócio.
Eva destaca que aprender a delegar é um passo indispensável para o profissional ter tempo para priorizar ações estratégicas na empresa e ainda é a melhor forma de desenvolver cada membro da equipe.
— Quando nós somos líderes de nós mesmos, precisamos nos preocupar apenas em cumprir prazos e ter habilidades técnicas para desenvolver as tarefas e garantir o melhor resultado e qualidade do trabalho. À medida que o profissional cresce na carreira, ele muda a forma de administrar o tempo, as habilidades que desenvolve e aquilo que valoriza. Ao virar líder de pessoas, ele precisa desenvolver sua equipe, e delegar tarefas é a melhor maneira de fazer isso — explica.
Texto confeccionado por: Ione Luques
Fonte: Site Contábeis
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