As empresas estão próximas do limite de endividamento corporativo no Brasil, mas os grandes bancos estão preparados (provisionados) para aguentar um provável aumento da inadimplência em 2016 e no próximo ano.
Na avaliação do economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, a expectativa é que a inadimplência das pessoas jurídicas com as instituições financeiras alcance 5,2% em 2016 e 5,5% em 2017.
“As empresas estão passando por dificuldades com a recessão prolongada. Os bancos já prevendo essas dificuldades aumentaram suas provisões para devedores duvidosos (PDD). A realidade bastante crítica é que a inadimplência tende a aumentar”, prevê Agostini.
Pelos dados mais recentes do Banco Central (BC), a inadimplência das pessoas jurídicas em crédito com recursos livres avançou de 3,4% em 2014, para 4,5% em 2015.
Mesmo no crédito com recursos direcionados, onde há maior exigência de garantias pelas instituições financeiras, o aumento da inadimplência subiu de 0,5% em 2014 para 0,9% no ano passado.
Em números, o volume de crédito das pessoas jurídicas com o sistema financeiro atingiu R$ 1,707 trilhão, o equivalente a 28,8% do produto interno bruto (PIB), sendo R$ 832 bilhões com recursos livres e R$ 875 bilhões com recursos direcionados.
“No Brasil, diferentemente da Europa onde o crédito corporativo é mais alavancado, os bancos emprestam às empresas até um limite de 30% a 40% do patrimônio [das companhias]. O problema econômico [recessão] não gerou e não deve gerar uma crise financeira nos grandes bancos locais. Os principais [bancos] concentram mais de 85% dos depósitos”, argumentou Agostini.
O economista lembra que grandes empresas locais conseguem superar essa restrição do sistema financeiro nacional ao tomarem recursos no exterior. “Elas se endividam ainda mais, em dólar”, disse. Além disso, as médias e grandes empresas tomaram R$ 748 bilhões em debêntures e notas promissórias no mercado de capitais.
Para o professor e presidente da consultoria Fractal, Celso Grisi, a inadimplência das empresas seguirá elevada em 2016 e 2017, ao passo que os grandes bancos brasileiros estão com “extrema liquidez” (excesso de recursos disponíveis).
“As empresas estão muito próximas do limite de endividamento. Algumas, eu diria, até ultrapassaram esse limite [ex. Petrobras e Usiminas] de alavancagem”, diz Grisi.
Empresas muito endividadas podem atrasar pagamentos regulares de fornecedores e colaboradores e recorrer a reestruturações financeiras.
Mas por outro ângulo, o professor diz que os grandes bancos estão renegociando as dívidas e aumentando os prazos para evitar mais perdas. “O aumento das provisões reduz o lucro dos bancos. As instituições não querem ver seus lucros reduzidos”, contou Grisi.
Nos últimos balanços, referentes ao quarto trimestre de 2015, o Bradesco registrava carteira expandida de R$ 215 bilhões para grandes empresas (inadimplência de 0,54%) e saldo de R$ 110,44 bilhões para micro, pequenas e médias, onde a inadimplência estava em torno de 5,98%.
No Itaú, a carteira de grandes empresas registrava o volume em R$ 205,704 bilhões, e as micro, pequenas e médias haviam tomado R$ 82,688 bilhões. A taxa de calote corporativo estava em 1,9%.
No Santander, a carteira de grandes empresas estava em R$ 110,68 bilhões, e as pequenas e médias registravam volume de R$ 31,572 bilhões. A inadimplência da pessoa jurídica marcava 2,1% na instituição.
Ainda sem balanços mais recentes, o Banco do Brasil exibia anteriormente R$ 152 bilhões para grandes empresas, e R$ 101 bilhões para empresas menores, e a Caixa Econômica relatava uma carteira corporativa de R$ 94 bilhões. Ao todo, os 5 principais bancos – sem contar o BNDES – possuem mais de R$ 1,1 trilhão expostos em crédito corporativo.
Expectativa de restrição
Em nota divulgada ontem, a agência de classificação de risco Fitch Ratings disse que os bancos privados restringirão sua exposição. “A extensão do período de recessão intensifica as preocupações com a qualidade dos ativos, tanto nas carteiras corporativas, como na de varejo”, relatou a Fitch.
O crescimento de crédito, em 2016, deverá ficar próximo ou abaixo da inflação. “Os bancos priorizarão a redução de despesas e o aumento das receitas de serviços”, apontou.
Fonte: Jornal Contábil
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