segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


Homem! Vaidoso que és, simples metazoário

Dotado de razão. Teu antropocentrismo

Vive dentro de ti, como um microorganismo

Cantando o teu poder imenso, extraordinário.

Microscópico deus, pigmeu no grande abismo

- Filho da poeira astral ou de um cosmozoário -

Descendente talvez de humílimo espongiário

Ou flor da terra-mãe em santo paroxismo.

És grande, és forte, és sábio, és quase onipotente,

És uma multidão de vidas celulares

Em perfeito equilíbrio e em função permanente.

És uma força em marcha, um poder intranqüilo

A querer desvendar os mundos estelares

Em busca de outro irmão, na ânsia de destruí-lo.

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Há numa simples pétala de rosa

Infinitos de luz e de harmonia,

Soluços de astros, sóis em plena orgia,

Íris florais em festa misteriosa...

Treme-lhe a carne, a derme voluptuosa.

Vibram nervos à flor da tez macia.

E uma alma de mulher se denuncia

No enrubescer da pétala medrosa...

E como a virgem no esplendor de um beijo,

No alvorecer do amor e do desejo,

Entre clarões de acesos rosicleres,

Trêmula e viva a pétala palpita.

O seu perfume é a ânsia que se agita

Na alma da flor, na boca das mulheres.

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Vergado ao peso enorme do volume

E ruminando o fel da vida amarga,

Eis o homem cuja vida se resume

Em ser paciente azêmola de carga.

Doem-lhe os rins e sente em cada ilharga

A pressão de um punhal de afiado gume

- Atlas de torso nu e espádua larga

Que canta por disfarce ou por costume -

Ó meu irmão de músculos retesos,

De olhos em brasa eternamente acesos

E compleição de lutador romano,

Eu não invejo o teu vigor de atleta,

Porque na alma raquítica de poeta

Carrego o peso do tormento humano.

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